terça-feira, 6 de novembro de 2007

Capitão Nascimento, herói ou vilão?


Assisti Tropa de Elite! Finalmente me atualizei de todas as conversas que rondaram sobre esse filme, aliás, não há como não ouvir uma, quando assisti já sabia 50% das partes (pior coisa que existe em tentar assistir depois). Depois de tanto falatório e suspense, o que você achou do filme, Camila? – Ótimo, realmente é muito bem retratado o lado da polícia, magnífica a frase “sistema pelo sistema, não pela sociedade”, a cena da passeata da paz foi muito marcante e etc. Mas a verdadeira razão de escrever um texto sobre esse filme é o fato de que conceitos ele pode trazer para a sociedade que assiste, dependendo ou não de sua instrução ou nível social, pois até no caso do riquíssimo Luciano Huck, ao roubarem seu luxuoso e caríssimo relógio ROLEX, ele falou num artigo: “Onde está a polícia? Onde está a ‘Elite de tropa’? Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos que segurança pública de verdade!”. Então segundo esse homem super instruído (pensei...) e influente, é preciso que se chame aquela tropa para torturar e causar terror na favela toda para recuperar seu reloginho de grife! Quantas mais pessoas assistiram a esse filme e tiveram esse pensamento? Ver aquele final e sentir que o bandido foi morto e o capitão Nascimento achou um bom substituto é um final feliz e reconfortante, justo?! Afinal o capitão Nascimento é um herói? Pelo o que parece ele se tornou um, pelo artigo que a carta capital produziu (http://www.cartacapital.com.br/2007/10/465/heroi-torturador/) mostrou como o filme ganhou amplitude e vem sido interpretado pelo povo brasileiro. Muitos acabam esquecendo a mensagem principal do filme, de como a polícia é fraca, precária, e encaminham muitos pra corrupção, fazendo que seja um sistema falho. E o pior que não foi ressaltado no filme se a tropa de elite funciona ou não para a sociedade. Claro que no filme a gente viu um monte de “neguin” bandido morrendo, parecia até que funcionava: “Morreu o chefe do tráfico da favela!” resolvido? Será preciso matar quantos? Até onde irá essa violência gerada dentro da polícia, na favela? Você viu esse filme que é baseado em relatos de 1997, acha que melhorou algo no Rio pelo o que tem visto nos jornais? Existem dados de que nada adiantou, a violência não decresceu nada no Rio de Janeiro desde que o BOPE atua, mais civis foram mortos por policiais, os bandidos se armaram mais para combater o BOPE, o mesmo também se armou mais, o tráfego continua mais vivo que nunca e nós morremos e não aprendemos que “violência só gera violência”. Por isso não me conformo ao vangloriarem o capitão Nascimento, dou mais razão aos policiais que se omitem e se corrompem dos que os que usam da violência, tortura e terror e se dizem que fazem justiça. O filme por um lado critica o sistema dos policiais que é furado, corrupto e precário, mas também dá ênfase ao sistema do BOBE, que se diz “funcionar”, se tratando de uma medida imediatista em que se vê o traficante morto ali na hora, mas não as pessoas e crianças que crescem com aquilo, qual a reação que existirá posteriormente. Por isso me preocupo com o que esse filme trás para nossa sociedade, fico me questionando o que os traficantes acharam dele, quantos Lucianos Hucks andam por aí, cantando o hit do filme, vangloriando tais rituais de tortura e violência para o “bem da sociedade” e seus relógios de grife.