“E agora assiste a tudo em cima do muro...” Já cantava Cazuza preocupado, como também ouço constantes acusações às pessoas que escolhem essa posição. Há de se concordar que, aparentemente, seja uma atitude covarde, cômoda. O que me fez pensar no porquê da existência de um muro, o que significa?
Muros são construídos para separar, para proteger, porque são frutos de nosso medo, para não podermos encarar a realidade à fora. Logo, já não tenho tanta certeza de que as pessoas que escolheram um lado do muro, tão orgulhosas e convictas por defendê-lo, sejam tão corajosas. Escolher um lado pode significar se isolar, limitar-se à própria realidade, e ficar com uma visão restrita.
Ou pior, os muros levam à intolerância, visto que não se há comunicação com o outro lado, ele passa a ser estranho, diferente, tornando-se, por sua vez um oponente, por isso a revolta quando se vê pessoas em cima do muro, porque há o temor de enfraquecimento, de que sua realidade seja contestada.
Por isso, penso se a pessoa que ficou em cima do muro talvez, em algumas situações, possa ser também um ato de coragem, porque ousou ter uma visão mais ampliada, porque tem necessidade de comunicação com o outro lado. Talvez, não se contente com nenhum dos lados, ou não veja utilidade na existência do muro, queira derrubá-lo.
Venho concluindo que o ideal não seja estar em nenhum dos lados do muro, ou se quer em cima dele. Eu defenderia, de antemão, a abolição total dos muros que criamos, mas nunca poderemos nos livrar totalmente deles, pois são essencialmente uma característica humana. Então o que defendo mesmo e vejo como ideal é que nos muros que construímos, sejam feitas janelas, portas, passagens, ou melhor ainda, , refazer um muro que não seja tão alto ao ponto de tomar nossa visão do outro lado. Sendo o mais importante o sentimento descontentamento com o que temos e pensamos, a necessidade de sempre ousar para o que há além do muro e tentar compreender e nunca, nunca: perder a comunicação com o outro lado...
(Mais fotos do Muro de Berlim para inspirar e ao som do álbum "The Wall" do Pink Floyd)