domingo, 30 de janeiro de 2011

Um muro para se ver acima...

(Muro de Berlim, um dia antes de sua queda)

“E agora assiste a tudo em cima do muro...” Já cantava Cazuza preocupado, como também ouço constantes acusações às pessoas que escolhem essa posição. Há de se concordar que, aparentemente, seja uma atitude covarde, cômoda. O que me fez pensar no porquê da existência de um muro, o que significa?

Muros são construídos para separar, para proteger, porque são frutos de nosso medo, para não podermos encarar a realidade à fora. Logo, já não tenho tanta certeza de que as pessoas que escolheram um lado do muro, tão orgulhosas e convictas por defendê-lo, sejam tão corajosas. Escolher um lado pode significar se isolar, limitar-se à própria realidade, e ficar com uma visão restrita.

Ou pior, os muros levam à intolerância, visto que não se há comunicação com o outro lado, ele passa a ser estranho, diferente, tornando-se, por sua vez um oponente, por isso a revolta quando se vê pessoas em cima do muro, porque há o temor de enfraquecimento, de que sua realidade seja contestada.

Por isso, penso se a pessoa que ficou em cima do muro talvez, em algumas situações, possa ser também um ato de coragem, porque ousou ter uma visão mais ampliada, porque tem necessidade de comunicação com o outro lado. Talvez, não se contente com nenhum dos lados, ou não veja utilidade na existência do muro, queira derrubá-lo.

Venho concluindo que o ideal não seja estar em nenhum dos lados do muro, ou se quer em cima dele. Eu defenderia, de antemão, a abolição total dos muros que criamos, mas nunca poderemos nos livrar totalmente deles, pois são essencialmente uma característica humana. Então o que defendo mesmo e vejo como ideal é que nos muros que construímos, sejam feitas janelas, portas, passagens, ou melhor ainda, , refazer um muro que não seja tão alto ao ponto de tomar nossa visão do outro lado. Sendo o mais importante o sentimento descontentamento com o que temos e pensamos, a necessidade de sempre ousar para o que há além do muro e tentar compreender e nunca, nunca: perder a comunicação com o outro lado...

(Mais fotos do Muro de Berlim para inspirar e ao som do álbum "The Wall" do Pink Floyd)

4 comentários:

tertia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
tertia disse...

"Um muro para se ver acima..."
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Blogger tertia disse...

O fato de ficar em cima do muro, seria que até os revolucionários cansam de querer mudar o mundo, suas ideologias envelhecem e já esgotados assistem a tudo em cima do muro. Como tudo na vida é um ciclo vicioso e precisam mesmo ser revigoradas, novas ideologias renascem legitimadas pelas velhas idéias de mudança e como diria o poeta "no presente a mente o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais". Quanto ao muro, sempre digo que o capitalismo é a pior ditadura, pois ela é mascarada, o capitalismo derruba os muros físicos existentes entre países, ou mesmo na diferença entre religiões etc. não digo que isso seja ruim, aliás, essas mudanças foram e são de suma importância para evolução da sociedade, em contra partida, compramos do capitalismo o seu produto da falsa liberdade, digo falso, pois ele não derruba os muros da desigualdade econômica e social que nos permitiria provar o verdadeiro sabor da liberdade. O capitalismo é um câncer que atua na sociedade corroendo as pessoas de dentro para fora, onde cada indivíduo constrói o seu muro particular no intuito de se resguardar contra ‘pseudo-s sofrimentos’, e aquele conceito senil de ajudar o próximo, de trabalhar em contribuição a melhoria da sociedade em que vivemos, vão ficando esquecidas, démodé e dando lugar às necessidades de ter uma televisão nova, celular mais atual, roupas da moda ou de qualquer outra futilidade para nos auto-afirmar e tentar preencher o vazio que sentimos na atual vida moderna em que esse sistema nos convenceu com suas lindas propagandas que somos o máximo porque temos ‘o poder de compra’ e não precisamos de ninguém para ser feliz, que o melhor seria nos resguardar da convivência de outras pessoas e assim em parte, valido a minha teoria de que esse sistema é desarticulador, pois acredito que são através das boas discussões em grupo, que nascem e são articuladas as novas e boas ideologias, as necessárias para a evolução da sociedade e esse sistema todos os dias nos diz para sermos pessoas egoísta, consumista que se basta e assim edificamos uma sociedade individualista, infeliz, solitária, insensível ao sofrimento alheio, trancados dentro de casa e nos distraindo com os nossos sites de relacionamentos “erguendo muros que nos dão a garantia de que morreremos cheios de uma vida tão vazia”. O comentário seria muito maior e mais profundo, tem muito mais coisas que envolvem esse tema, porém estou com sono e ainda gosto desse tipo de papo ao vivo e a cores, onde surgem outras opiniões e existe uma troca, alguém pode até mudar minha opinião ou afirmá-la mais ainda, então termino com uma frase do Saramago que diz assim: “- Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Camila de Araújo Carrilho disse...

Muito interessante seu comentário, o capitalismo, se você leu a obra de Aldous Huxley, "O Admirável Mundo Novo", nesse romance ele conseguiu reproduzir o que hoje vivemos só que em um estágio bem mais avançado, mas ele deixa claro que as pessoas são controladas, não pela dor ou repressão, como a gente vê comumente nas ditaduras e outros sistemas políticos que decaíram, mas pelo prazer, como se controlassem toda a sociedade com um "pão e circo" bem mais sofisticado. Um pensamento que eu venho desenvolvendo muito e tirando a conclusão de que o maior muro que temos é o criado por nós mesmos, e principalmente muito construído por essa lógica individualista, por isso adorei esse termo que você usou do capitalismo como desarticulador. Você ia adora ler os livros de Zigmunt Bauman, se é que já não leu pelo visto. Muito boas suas considerações e obrigada pela participação. :)

tertia disse...

Não conheço nenhum dos dois autores, vou procurar Lê-los...q bom que gostou do comentario e obrigada pela dica dos livros!