terça-feira, 23 de outubro de 2007

O poder dos imperativos



As máquinas não nos completam. Sempre observei o consumismo desenfreado que nos tenta todo dia. Minha mãe me parece um bom exemplo, a casa aqui é cheia de “novidades” que aparecem nas lojinhas, promoções, também adora aparelhos como teve uma época em que sonhava com uma TV de tela plana, ficava direto falando que queria uma até o dia ganhou uma de plasma, isso calou a boca dela? Não era do tamanho que ela queria, ficou reclamando que fosse maior, sem contar que são quatro televisões aqui em casa, e assim vai indo... Sempre vai surgindo algo novo e deixa-nos insatisfeitos. Atentei para esse fato quando ouvi de uma mulher que trabalha na casa de minha avó falando da televisão de plasma toda encantada como se fosse coisa do outro mundo. Aí lembrei de toda a saga da minha mãe e eu também era curiosa para ver a grande diferença que ela tinha. Hoje vejo novos designs sendo criados, não só de televisões, todo dia são celulares novos, os carros, surgindo novas sérias bem mais rapidamente que antes, até shampoo e sabonete estão nessa briga! Todos brigando pelo o que mesmo? Afinal até onde ela irá? Que valores eles sustentam e buscam? Conforto, status, velocidade, beleza. São esses pelo que observo, mas eles nos completam? Então porque queremos sempre mais? Estamos presos a essa cultura pelo extraordinário e por trás dele se encontra o vazio, não vemos se quer o propósito real para tanta tecnologia. Nessa história perdemos e desvalorizamos as relações com os outros, em vez de comprar um celular novo, que tal seria formar uma nova amizade, conhecer os vizinhos, participar de um novo grupo, praticar esportes, tocar um instrumento musical, fazer algum curso faz conhecer novas pessoas. Se abrir mais, notar se realmente cumprimenta todos que fazem parte do nosso cotidiano, principalmente aqueles que fazem trabalhos simples como o porteiro, o zelador etc. Que tal dar mais ouvidos as crianças, podemos aprender muito com elas além de ensinar. Já procurou sentir pequenos e simples prazeres como ver um bebê tomando banho, o sorriso dele? Será que estamos distanciando desse nosso lado humano? Toda essa economia de tempo da vida moderna procura proporcionar é para aproveitar esse lado ou outras modernidades e os prazeres que eles querem que você sinta?
Fiz esse texto cheio de interrogações porque é isso que falta em nossa vida. Temos de questionar toda essa cultura de consumismos e prazeres premeditados que nos é jogada por meio de imperativos como: Sinta! Compre! Beba! Seja! Entre vários outros. Pode parecer inofensivo já que temos o poder de escolha, mas com o tempo ele penetra no cotidiano causando fortes influências até chegar a ser imposto que se não seguir pode ficar para trás, isolado. Como um professor de filosofia me relembrou: “Ser diferente é muito difícil”. Parece uma frase simples e até meio óbvia, mas é realmente muito difícil de renegar os dogmas da burguesia. Tente deixar de comer carne, beber refrigerante, não usar carro, não vestir uma roupa da moda e depois me diga se os imperativos são realmente inofensivos.

P.S.: A segunda imagem é do filme "O fabuloso destino de Amelie Poulain", não trata da questão do consumismo mas dos pequenos prazeres, um filme altamente recomendável, uma verdadeira poesia e respostas aos blockbusters atuais!

2 comentários:

Nestor Burlamaqui disse...

Ser diferente é uma ameaça ao mercado, que tenta, por formas diversas, condicionar todo o comportamento humano para o ato do consumo.

Patrick disse...

Recentemente eu recebi um documentário sueco sobre consumismo, Surplus: Terrorized into Being Consumers. É uma crítica extremamente ácida ao consumismo. Tem um estilo modernoso que me irritou um pouco mas a idéia é interessante.